segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Gordos, mórbida semelhança

Neste final de semana a Mariah, naquele papinho gostoso antes de dormir, pela primeira vez comentou que eu e a Luiza somos gordos. Era algo que eu esperava mais traumático ou até mesmo ofensivo, mas foi só um comentário, mais doce e simples que talvez nem numa fase otimista eu pensaria.

O dia chegou e por trás desta apreensão de quatro anos há o medo da rejeição. Fui muito rejeitado por ser obeso, mas hoje, quase 40 anos de idade e alguns anos de boa psicoterapia e cristianismo julgo-me parcialmente curado, mas ainda temo a rejeição das pessoas que eu mais amo, embora eu saiba que Mariah é louca por mim. Mesmo eu sendo gordo.

Hoje eu interpreto que a rejeição que eu sofria não era só pela obesidade. Era a combinação de obesidade com pobreza, mas deixa isto para um outro dia.

Existem fenômenos que basta estarmos vivos para ocorrerem: envelhecer e ser rejeitado são apenas dois exemplos. O gordo sofre de uma forma diferente o envelhecer porque vive pouco. O único obeso que está vivendo muito que eu tenho conhecimento é o Delfim Netto. A velhice é mais curta e mais dolorosa, acompanhada de diabetes, hipertensão e hérnia. Por outro lado, a rejeição que o fofinho sofre também é diferente, pelo nível, pela frequência e pela culpa. Culpa porque para os outros a única responsabilidade pela sua doença está nos seus hábitos alimentares e basta fazer uma dietinha, "ter força de vontade", "fazer uns exercícios" que você, gorducho, emagrecerá! Emagrecer é fácil. Tão fácil que estamos vivendo uma epidemia de obesidade no ocidente. Quando eu era criança, no início dos anos 1980, o fato de alguém pesar mais de cem quilos era motivo de escândalo e chacota e hoje alguém com este peso é, dependendo da altura, "normal" e socialmente aceito como beber uma taça de vinho uma vez por semana.

A rejeição muitas vezes é sutil, outras nem tanto. Numa festa de criança uma vez a minha esposa ouviu um convidado olhando para a Mariah e perguntando para a convidada ao lado: "Como pode uma menina tão bonita ter pais tão feios?". Como se gordos e feios não pudessem ter filhos bonitos, saudáveis e felizes. Somos condenados a não só sermos infelizes e execrados por toda a nossa deprimente existência como também termos filhos nas mesmas ou piores condições.

Mas hoje é dia de alegria, pois Mariah nos ama mesmo sendo gordinhos! E ontem, lendo a Revista dO Globo, descobri que existe um blog de uma jornalista que encarou o desafio de fazer sexo com cem diferentes homens durante um ano. Missão difícil pois dá uma média de quase um homem diferente a cada três dias. Parece que ela viu que não era tão fácil "cumprir a meta" e baixou para 50 homens, que dá um por semana aproximadamente.

"Sacanagem pura" - pensei - "Vou dar uma bisbilhotada neste blog safado!" Começo a ler e me desperta a inveja. Não por minha vida sexual não ser tão animada, mas porque a menina escreve bem. Tudo bem, eu não fiz faculdade de Comunicação Social e nem acho que eu tenha aquilo que chamam de talento. Lendo o blog da Letícia F. relembrei o dia que eu li "Os Donos do Poder", do Faoro: eu não conseguia me concentrar no texto, só pensava "PQP! Jamais vou escrever tão bem quanto ele!".

"PQP! Jamais vou escrever tão bem quanto a Letícia F.!"

E ela faz um relato muito interessante sobre ser obeso e vale a pena uma leitura carinhosa porque a mulher provavelmente sofre mais que o homem o drama dos fofos.

http://cemhomens.com/2011/10/sua-gorda/