segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Amigo oculto

Até ela nascer nós éramos desconhecidos. Um casal como qualquer outro que compra pão na padaria, vai ao supermercado, sai de carro no final de semana, caminha de mãos dadas na calçada e corre para atravessar a rua com o semáforo quase abrindo para os carros.

É bom ser normal e desconhecido e andar no meio da minha rua quase sem movimento, mas ela nasceu e nos deu o conceito de vizinhança, de comunidade. Na padaria todos conversam com ela e o vizinho de frente deu um bambolê de lembrança. Mariah, com a sua força incomparável, devolveu o sabor agradável de subúrbio que a Tijuca parecia ter perdido. Descobre-se então que outras pessoas queriam também sentir este sabor, interagir positivamente com os vizinhos e não só tolerá-los e fazer alguns deles amigos.

Luiza está promovendo uma brincadeira de "Amigo oculto" com os coleguinhas da escola e o sorteio será no nosso apartamento. As crianças estão ansiosas por brincar e conhecer a casa da Mariah. Não sei se vai dar tanta gente lá em casa. Vamos aproveitar para comemorar os nossos 11 anos de casados com os nossos amigos vizinhos.

domingo, 20 de novembro de 2011

Williamsburg

"1980: O seu computador pessoal era o seu cérebro"

"1954: você toleva a segregação nas escolas"

"1940: você não assistia TV"

"1920: você aceitava que as mulheres fossem proibidas de votar"

"1913: você não pagava imposto de renda e não recebia nenhuma seguridade social"

"1865: você conhecia pessoas que eram donas de outras pessoas"

"1820: você não podia viajar por terra mais que 70 milhas por dia"

"1800: quase tudo que você comia era colhido nas proximidades"

"1790: o seu jornal mais recente era de mais de uma semana atrás"

"1776: você estava sujeito à sua majestade, o rei"


Na cidade de Williamsburg, no Estado da Virgínia, um hotel e um centro de informações turísticas foram construídos num terreno ao lado do sítio histórico, porém separados por uma estrada. Foi edificada então uma passarela e a ideia era fazê-la um "tunel do tempo". Colocaram então placas no piso da passarela para criar o clima.

Reparem que os comentários da vida no passado eram sempre negativos (tirando o fato de não se pagar imposto de renda).

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Benjamin Franklin

Até eu ler A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber, Benjamin Franklin era uma pessoa que nunca despertou o meu interesse. Ele inventou o para-raios e isto é um fato importante para quem é engenheiro, mas fora isso e a sua atuação formação dos Estados Unidos, eu praticamente não sabia nada sobre ele.



O Franklin de Weber personifica o avarento e a pessoa que faz do ato de enriquecer a meta mais importante da vida. Não sou um estudioso da obra do sociólogo alemão, mas eu interpreto que Weber fez um perfil negativo e muito limitado de Franklin e embora o foco do seu livro não fosse a vida e o pensamento dele, Weber poderia ter sido um pouco mais amplo e justo.

No livro são citados uns pensamentos de Franklin e hoje, quase por acaso, descobri de onde sairam estes pensamentos. Eles vem de um almanaque que Franklin escreveu durante anos, uma obra que circulou nos Estados Unidos (na época uma colônia britânica) de 1732 a 1758 chamado Poor Richard's Almanack (Almanaque do Pobre Ricardo). Curioso como sempre, fui dar uma olhada no tal almanaque graças a ação de uma meiga e caridosa alma que digitalizou e disponibilizou na rede:

Poor Richard's Almanack

O fascinante é que Franklin além de jornalista, político, pensador e inventor era um grande criador de ditados! Sempre desejei saber quem inventou alguns ditados pois ditados são mágicos, são pétalas de sabedoria anônimas.

A sabedoria de Benjamin Franklin (tradução livre):

"Tempo é dinheiro" (Time is money)

"Coma para viver e não viva para comer" (Eat to live, and not live to eat)

"Quem tem janela de vidro não atira pedras na casa do vizinho" (Don't throw stones at your neighbours, if your own windows are glass)

"O bom pagador é o dono da bolsa alheia" (The good Paymaster is Lord of another man's Purse)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

And the winner is...

Certas ideias saem da boca do povo de uma forma tão melíflua que acabam ganhando ares de verdade. São as lendas populares. Claro que não são pensamentos sofisticados como a questão da ética protestante na formação da cultura dos Estados Unidos ou o conceito de mais-valia de Marx.

Uma lenda popular que já se consolidou é que os sorteios da Mega-sena são fraudados e uma das provas inquestionáveis é que o sorteado sempre é de uma cidade do interior, o que supostamente dificultaria uma averiguação da lisura do sorteio e o anúncio público do sorteado.

Num país com tantos crimes e sequestros é natural que uma pessoa que ganha R$ 20 milhões não queira aparecer. Rico midiático sempre é cercado de fiés seguranças.

A outra questão é que o Brasil é um país bem rural. Existem milhares de cidades com menos de 100 mil habitantes. Só no estado de Minas Gerais são mais de 600 munícípios, alguns tão pequenos quanto Nova Resende e Itutinga. Não me estranha de forma alguma que moradores destas cidades ganhem na Mega-sena com certa frequência até porque proporcionalmente as pessoas que vivem no interior jogam mais do que as pessoas que vivem nas grandes cidades. Porque em cidades do interior as prossibilidades de progresso econômico e enriquecimento são muito menores e porque as opções de lazer - e jogar em loteria é uma forma de lazer na opinião de muitos brasileiros - são bem menores que nas cidades do Rio de Janeiro e em São Paulo.

Esta questão me intrigou depois que um internauta deixou uma mensagem num dos foruns que eu participo dizendo que o único ganhador de um prêmio de R$ 30 milhões foi da pequena cidade que ele vivia e que a afiliada da Rede Globo estava a procura do felizardo. Surgiram comentários de todas as formas em resposta a esta mensagem, anguns bem engraçados, sugerindo que o internauta se perfumasse e fizesse a barba pois o boato era que a cidade ganhou uma nova rica viúva de 50 anos. O mistério acabou dias depois, quando o mesmo internauta anunciou que descobriram que o sortudo era um sergipano com sete irmãos. Dizem que o nordestino deu dois milhões de reais para cada irmão e ficou com o restante e todos voltaram felizes para o menor estado do Brasil. Que Deus os abençoe e os ilumine.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Alegria de pobre dura pouco

Parece que acabou o blog "Cem homens". É uma pena. Se ela tivesse mostrado o rosto, se identificado, pelo menos quando o blog ficou consolidado e famoso talvez ela estivesse numa situação financeira melhor hoje. Ou teria torrado definitivamente o seu futuro profissional

Seria uma aposta bem ousada.

Leituras

Ontem, 09-11-2011, eu e a Luiza fomos fazer a avaliação médica para entrar na academia. Mais uma vez. Mais do mesmo. Não sei como vou fazer caminhada na esteira com uma hérnia, no entanto vou tentar. Na volta, por volta das 20h, mortos de fome pois estava sem comer desde às 13h, não resisti e paramos no barzinho que fica bem no caminho da volta. Maná dos deuses.

Já em casa, abri o pacote que chegou do Itaú Cultural, com três livros que eu pedi pela Internet faz tempo. Os livros parecem que foram escolhidos pelo critério de menor peso e não apenas pela qualidade, pois eram bem leves e isto diminui as despesas postais.

Mariah ficou doida. Só que eu estava tão cansado que disse que iria ler apenas um dos três, e que era para escolher um, apenas um. Ela escolheu o do Chico Buarque. Nem sabia que Chico Buarque escrevia livros infantis.

Eu acabei lendo todos, porque a guria ficou tão apaixonada e carinhosa que me venceu. É tão nobre, tão paternal ler para os filhos.

domingo, 6 de novembro de 2011

SUS

A semana passou e o assunto que mais me impressionou foi a doença do Lula. Não que a doença me surpreenda, porque é relativamente comum um cancer daquele tipo numa pessoa que fuma muito, mas a forma como o fato se propagou. Perdemos uma ótima oportunidade de falar dos males do tabagismo para insinuar os males do sistema público de saúde.

Não questionarei se Lula deveria ou não usar o SUS ou qualquer outro serviço público, nem se é justo as pessoas usarem a grossa ironia para dizer que ele mentia quando falava das maravilhas implementadas no SUS durante a gestão que iniciou em 2003. Tancredo Neves usou o serviço público de saúde e o anterior, João Figueiredo, se não me falha a memória, chegou a fazer uma cirurgia espiritual num centro espírita na Penha, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. Cirurgia espiritual em centro espírita não é SUS, mas pode ser considerado um serviço público no lato sensu. Fora estes dois casos, não me recordo de nenhum presidente ou vice-presidente que tenha usado o sistema público de saúde ressaltando que a minha tenra idade só permite recordações a partir do governo Figueiredo (1979 - 1985). Aliás, por que o José de Alencar pode usar a rede privada sem críticas e o Lula não pode? Já que é para criticar e questionar, eu duvido que os filhos do governador Sergio Cabral (PMDB/RJ) possuam diplomas de segundo grau emitidos por uma escola pública estadual. O mesmo para os rebentos de Eduardo Paes (PMDB/RJ) e Cesar Maia (DEM/RJ).

Mas quando anônimos leitores de jornais dizem que "O Lula deveria se tratar no SUS" o que eles querem afirmar é que o sistema de saúde pública no Brasil é horrível e que o responsável por esta situaçao deveria padecer do mal que criou, como se todos os governantes atuais e anteriores também não fossem responsáveis pela situação do sistema público de saúde. É claro que estes também são responsáveis e Dilma, FHC, Sarney e todos os demais governantes federais, estaduais e municipais deveriam todos de tratar no SUS se é para seguir esta linha de pensamento.

Mas muitos dos que enfaticamente relatam esta suposta tragédia o fazem por meio de impressões e relatos de segunda mão, pois já abandonaram o sistema de saúde pública há muito tempo e acabam sendo como a criança que diz que não gosta de pera sem ter nunca experimentado. E boa parte só abandonou o sistema porque a empresa paga um plano de saúde privado. Este é o meu caso, embora eu não tenha abandonado o sistema.

Em 2005 eu estive na Espanha e a tia da minha esposa estava internada para operar o coração. Fomos conhecê-la no hospital que fica na cidade de Huesca. O que eu vi foi algo melhor que a Casa de Saúde São José, que tem o foco na classe média-alta carioca. Só não tinha quarto particular, mas o que eles chamavam de enfermaria era um confortável quarto dividido com mais uma senhora porque a terceira cama estava vaga. Realmente, se for comparar com o sistema de saúde da zona do euro naquela época, a distância do SUS é enorme.

Por outro lado, eu usei o sistema público de saúde no ano passado, quando fui à Goiânia, e para ir àquela região é preciso tomar a vacina contra febre amarela. Na verdade eu, a esposa, a sogra e a  filha fomos vacinados no posto de saúde municipal da Tijuca (cidade do Rio de Janeiro) e o atendimento foi ótimo, rápido, sem filas e quase sem dor. Os funcionários foram muito gentis e explicaram todos os detalhes biológicos e burocráticos da vacina. Não sabendo responder uma dúvida da minha esposa quanto à aplicação da vacina na minha filha, um deles ligou para a pediatra da prefeitura para elucidar o caso. Por fim, o nível que choro da minha filha foi menor que a das vacinas privadas, fazendo-me concluir que as enfermeiras do município tinham uma "mão melhor para aplicar injeção".

Sendo assim, eu não posso, pela minha experiência atual, afirmar que o sistema é ruim. Falar isso é propagar um mito nem sempre verdadeiro que só beneficia quem quer mais dinheiro para o sistema, mas não tem compromisso com a melhoria do SUS, em especial os corruptos.