sexta-feira, 29 de junho de 2012

Só vinte por cento

Em 1992, eu acho, fui na primeira formatura de um universitário da minha vida. Era o meu irmão #5 que estava se graduando em Economia. Os irmãos #1 a #3 não quiseram cerimônia de formatura -  uma grande mágoa do meu pai - e o #4 não tinha se formado.

Uma cerimônia simples, formal, até meio mecânica, no auditório da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. O que me chamou a atenção e eu nunca mais esqueci é que apenas oito estavam no palco do auditório para ganhar o merecido diploma.


Naquela época, falar de cotas para negros era comentar apenas o exemplo dos Estados Unidos e filosofar se era bom ou ruim aplicar no Brasil, praticamente uma conversa sem aplicação prática por aqui.


Mas entraram quarenta alunos no vestibular e os outros 32? Abandonaram o curso. Este fenômeno da evasão escolar acontece em todos anos e em todos cursos universitários. A maioria das pessoas por conveniência mental não vincula a evasão escolar com cotas. 80% de pessoas abandonarem um curso pago com o dinheiro público é normal. Dar 20% das vagas para os negros é um absurdo inaceitável, uma violação do princípio da igualdade e da meritocracia.


40 pessoas entraram num ótimo curso de ciências econômicas (meu irmão #5 hoje é economista do BNDES) e só 8 se formaram. Para mim tem algo de muito errado acontecendo. 32 pessoas ocuparam vagas, torraram o dinheiro do governo e não deram o retorno à sociedade.
80% deixaram um curso e ninguém reclama de nada.


O aluno simplesmente desiste, deixa de frequentar as aulas e segue a vida. Não precisa pagar multas e não precisa devolver o dinheiro que o governo investiu no curso superior dele. Tudo muito cômodo para a classe economicamente mais favorável que historicamente sempre foi maioria no ensino público superior.

Agora 20% para o negro todo mundo grita! É sempre assim. O preconceito não é só contra o negro, mas contra o pobre. Uma amiga minha uma vez reclamou que não passou para medicina. "Foi por causa das cotas", ela disse. Eu mostrei que o problema foi a evasão das pessoas que entraram, tiraram a vaga dela, e não se formarão. Mas, sinceramente, acho que ela continua colocando a culpa nos negros.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Aparelhos ideológicos da escola

Mas o doutor nem examina
Chamando o pai de lado
Lhe diz logo em surdina
O mal é da idade
Que prá tal menina
Não há um só remédio
Em toda medicina..."
 
(Luiz Gonzaga, Xote das Meninas) 


Alguns professores do ensino fundamental e médio aproveitam a profissão para fazer militância política. Acho que hoje isto não é tão intenso nem tão comum, mas eu nunca vi um professor de história de direita. Nos anos 80 era moda tacar ideologia até em triângulo retângulo. Em outras palavras, eles faziam exatamente o mesmo que tanto acusavam a mídia, só que jogando pelo lado esquerdo do campo.

O resultado é que certos artistas que não apresentavam um trabalho fortemente ideológico eram desprezados, principalmente os românticos que naquela época estavam migrando de rótulo: eram cafonas e agora são bregas. O professor Paulo Cesar Araújo escreveu um livro (Eu não sou cachorro, não - música popular cafona e ditaduta militar) muito interessante sobre as músicas e artistas românticos populares e como eles foram esquecidos ou sofreram uma simplificação da obra. Os casos mais emblemáticos foram Dom & Ravel e Odair José. O tema central do livro era que os artistas populares não eram parte de uma engrenagem que tentava alienar a população, nem deixaram de sofrer com a censura.



Nesta época que respirava-se política e revolta, a única obra de Luiz Gonzaga que era digna de entrar numa sala de aula era Asa Branca. Asa Branca dava orgasmos convulsionantes em professores de geografia. O resto, na cabeça deles, era descartado, lixo puro.

Ontem Mariah começou a cantarolar uma música de Luiz Gonzaga que ela está ensaiando para a festa junina da escola. Xote das Meninas.  Encontrei no You Tube e ela pediu para ouvir umas oito vezes. Nunca tinha prestado atenção na letra, meu Deus, é poesia pura. Viva Luiz Gonzaga e parem de usar a escola como uma ferramenta de doutrinação política.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Namorados

Como eu disse aqui, no dia 08 de Junho de 1999 eu recebi um e-mail da Luiza. O encontro só rolou no dia 25, no NorteShopping que, por sinal, sabe-se lá o motivo, ela odeia.

Hoje, portanto, comemoramos 13 anos de namoro.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Joga fora e compra novo

Desde pequeno eu sempre gostei de manutenção. Sempre fui muito curioso e gosto de saber como as coisas funcionam, ver as soluções encontradas e descobrir novas máquinas. Adoro máquinas. Eu seria técnico a vida inteira se não fosse a questão financeira e de status.

Eu lembro que em 1985 o meu irmão #2 comprou por uma merreca um barbeador elétrico Philishave. Parece que alguém no trabalho dele tinha sido sorteado e, como não queria o prêmio, vendeu para o meu irmão. Era um aparelho simples, possuia apenas duas cabeças rotativas e não gozava de bareria recarregável interna: para operar deveria ficar ligado na tomada. O barbeador tinha um desempenho pífio e o meu maior prazer era montá-lo e desmontá-lo completamente. Ele era tão bem feito que as operações de desmontagem foram repetidas dezenas de vezes e nada de ruim acontecia.

Hoje em dia os produtos não são feitos para durar. A lógica é sempre trocar por um novo. Ao contrário do Philishave, ao desmontar muitas vezes danificamos o equipamento de forma irreversível porque é tudo colado ou encaixado e não mais aparafusado.

Quando era pequeno ouvia histórias de Norte Americanos que não consertavam geladeiras ou televisores, simplesmente descartavam na porta de suas casas brancas com telhados cinzas e grama impecavelmente aparada. Eles compravam novos! E eu não acreditava. No meu mundinho de subúrbio de grande cidade brasileira tudo era consertado ad eternum e eu não via lógica nenhuma em jogar fora uma televisão e acreditava que, tendo mão de obra tão barata, nosso país nunca seria assim. Tolinho.

Eu agora percebo que a indústria não ganha nada quando você conserta porque ela é uma montadora e quem fabrica a peça de reposição é uma outra empresa. O lucro está no ato de comprar um novo. As pessoas hoje entraram no jogo e compram coisas baratas, mas não percebem que esta redução de preço se dá, também, por meio da diminuição de peças sobressalentes em estoque, do número de oficinas autorizadas, da qualidade da montagem, da retirada breve do modelo no mercado, do uso de mão de obra chinesa e da compra de um produto de uma outra empresa e simplesmente colocando o nome da empresa supostamente conceituada (pratica conhecida como OEM). Estes procedimentos de fato diminuem o preço e permitem que mais pessoas consigam comprá-lo, porém tornam o aparelho descartável.

Três fatos recentes aconteceram comigo. O primeiro foi uma sanduicheira que estava queimando o sanduíche. Normalmente quando isto ocorre é porque o elemento de controle da temperatura falhou. Ao abrir a sanduicheira descobri que o chinês colocou um termostado de 150 graus Celsius. Com 150 graus não há pão que aguente. Tentei comprar um novo termostato, de 110 graus ou 120 graus, mas o que eu achei não era exatamente igual. Perdi a sanduicheira tentando adaptá-la para a peça não original que me custou R$ 12. Além disso gastei mais R$ 30 comprando uma nova sanduicheia.

O segundo foi que o antigo secador de cabelo da minha esposa parou de funcionar. É um Philips Professional maravilhoso, embora a desmontagem são seja tão simples e fácil como a do antigo Philishave. Foi somente o fio que partiu: reparo simples, mas, como eu estarei até meados do mês de julho sem todas as minhas ferramentas, optei por comprar um novo, só que portátil, para a minha esposa ir se virando. Como o Philips é enorme, um portátil para as nossas viagens acaba sendo uma boa solução. R$ 29 na Liquidação Maluca. A marca é a velha FAET do Rio Comprido, cidade do Rio de Janeiro, mas na caixa já dizia que era fabricado na China. OEM.

O terceiro fato foi o aquecedor de água do meu apartamento que está apresentando um pequeno gotejamento. Tudo indica que o defeito está no diafragma da válvula que "sente" quando a torneira é aberta e liga o aquecedor. O modelo, de uma marca famosa e comprado em 2004, está totalmente discontinuado. Só encontrei a peça para comprar numa loja virtual em Campinas, SP, por R$ 26. Some a isto o tempo perdido num equipamento que eu nunca reparei e o fato de, pela idade, a eficiência da caldeira provavlemente estar baixa. Na Amoedo tem um Komeco zerinho por R$ 199 com um ano de garantia . Acho que eu vou é jogar fora e comprar um novo.

A dificuldade esquecida

Mariah gosta muito de brincar de escola comigo. Ela é a professora e eu sou o aluno. Na brincadeira um caderno é sempre utilizado e por isto eu comprei um tipo universitário por R$ 6 e dei para ela desenhar e ela também tenta escrever alguma coisa. Ontem a última folha em branco foi preenchida com os nobres rabiscos. Ela pediu então um novo, mas quadriculado. Achei uma boa ideia para ajudá-la a treinar a escrita. O simples fato do caderno ter as folhas quadriculadas o fez dobrar de preço.

Como passou muito tempo, nós esquecemos o quanto é difícil aprender a ler e a escrever. O cérebro e o corpo são tremendamente exigidos e eu, pai coruja, fico num misto de pena e fascinação acompanhando o desenvolvimento da minha filha. Como pode uma peça tão importante na nossa sociedade quanto o professor do ensino fundamental ser tão mal remunerado e tão desvalorizado?

Cada país tem a sociedade que merece.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Meu chinês predileto

Houve uma época, no final do meu curso de engenharia, que eu me interessei e estudei bastante amplificadores de áudio. Apesar de eu não gostar muito de música, o tema me interessava e foi, inclusive, parte do meu projeto final de curso.

Um dia, procurando uma bibliografia para o tal projeto, eu comprei uma coleção de livros num sebo sobre o áudio. Era um livro originalmente inglês que foi traduzido e me ajudou o suficiente para receber a certificação "Se pagou". O curioso é que ele tinha uma frase que me instigou por anos até hoje! Dizia algo como "a maioria dos circuitos amplificadores da atualidade derivam do amplificador de H. C. Lin." Eu nunca tinha ouvido falar em H. C. Lin. Como pode uma pessoa querer fazer um projeto acadêmico sobre amplificadores e não saber nem quem foi o genial pioneiro? Que vergonha! No final do capítulo era possível conhecer o artigo original: revista Electronics de setembro de 1956. Procurei esta maldita Electronics até o inferno para ler e inserir na bibliografia do projeto final. Não deu.

Para quem não é do ramo, informo que graças ao trabalho de Lin milhares de surdos no mundo inteiro tiveram seus aparelhos auditivos mais leves e com maior duração da bateria pois o amplificador do tipo push-pull de H. C. Lin é muito mais eficiente que o convencional.

Hoje encontrei finalmente o artigo da revista Electronics e descobri que o meu chinês predileto  morreu em 2009, aos 90 anos. Aproveitei para postar  num fórum de eletrônica esta pequena homenagem:

Algumas ideias, de tão simples e geniais, continuam vivas décadas depois de lançadas e sendo inspiradoras de novos projetos eletrônicos.

Talvez o melhor exemplo seja o invento do amplificador transistorizado quase-complementar de Hung Chang Lin, em 1955. 

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Lin foi um engenheiro chinês radicado nos EUA que trabalhava com pesquisa na RCA. O transistor tinha sido inventado em dezembro de 1948 e universidades e empresas sabiam que o desenvolvimento da eletrônica passaria por este componente que era menor, mais leve e mais eficiente que as válvulas.

Em 1955, Lin patenteou o primeiro amplificador tansistorizado push-pull. É pouco provável que na sua casa não existam vários amplificadores como este: nos rádios e rádios-relógios, nos aparelhos de TV e no CD Player do seu carro.

Aqui está uma rara entrevista que este gênio desconhecido concedeu que nos deixou em 2009, aos 90 anos:

http://semiconductormuseum.com/Transistors/RCA/OralHistories/Lin/Lin_Index.htm

Após patentear o invento, Lin divulgou o seu trabalho na revista Electronics de setembro de 1956:

http://aireradio.org/articoli/img/HCLin_Quasi-Compl-Amp.pdf

Aqui está a patente histórica:

http://www.google.com/patents?id=XBACAAAAEBAJ&pg=PA1&dq=amplifier+ininventor:hung+ininventor:lin&source=gbs_selected_pages&cad=2#v=onepage&q=amplifier%20ininventor%3Ahung%20ininventor%3Alin&f=true




quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dia dos namorados, Kodak e discos voadores

Ontem, dia dos namorados, Luiza preparou um lanche surpresa para nós. A Mariah viu a máquina fotográfica e pediu para tirar umas fotos. O custo de uma foto digital é quase nulo. Neste momento eu percebi que um mundo de objetos a pequena jamais conhecerá como máquina datilográfica, videocassete e câmeras fotográticas com filme.

A decadência da Kodak talvez seja o mais didático caso de uma empresa que não se adaptou à nova realidade. Escolas de adiministração do mundo inteiro devem estar debatendo como um império caiu por não querer se mover. A Kodak foi uma mestra do Marketing quando tirou o foco do objeto que se compra "uma vez na vida e outra na morte", a máquina fotográfica, e se concentrou no insumo, que invariavelmente tinha que ser consumido em decorrência da compra e do uso da máquina fotográfica: produtos químicos, filmes e papéis fotográficos. Esta estratégia foi genial e a Kodak chegou ao extremo do marketing ao entupir o mercado com fotográficas baratas e horríveis como a Instansmatic e Ektra para aumentar as vendas de insumos. Infelizmente esta dependência dos gordos lucros dos insumos a fez jogar no pântano seu futuro ao não aproveitar a enorme vantagem competitiva de ter inventado a máquina digital exatamente por medo de corroer o seu lucrativo mercado de filmes e revelações. Como muitas pessoas que eu conheço, pelo prazer do presente, ela sacrificou irremediavelmente o seu futuro.



O resultado desta política de máquina barata com todo o resto caro são os raros registros do crescimento dos filhos até os anos 90. Tirar foto era caro e quase sempre o resultado era lamentável porque a máquina fotográfica era ruim. Raras eram as fotos que não ficavam tremidas, amareladas, desfocadas ou escuras. Para ter uma foto de qualidade, só em estúdio, com um fotógrafo profissional.



Hoje o deslumbramento de uma viagem de férias é medida pela quantidade de fotos. Conheço pessoas que tiraram mais de três mil fotos em duas semanas na Europa. A corujice dos pais também é medida por número de fotos. O fim da revelação liberou fantasias, agora todos nós podemos fazer fotos picantes, eróticas, irreveláveis. O medo do técnico em revelação foi transferido para o medo dos hackers e dos ex-namorados traidos com sede de vingança.



Dizem que a privacidade acabou com a Internet, os blogs e as redes sociais, mas poucos percebem o quanto a máquina digital foi coadjuvante desta mudança. Sem a foto digital, o nosso comportamento na Internet seria completamente diferente. A única coisa que não mudou foram os discos voadores! Assim como a Kodak, eles ainda preferem ser fotografados por máquinas fotográficas de filme: como hoje em dia todo mundo tem máquina fotográfica digital ou celular com câmera ou mesmo filmadora (por que ainda tem este nome se não usa mais filme?) era de se esperar que a quantidade de novas fotos de discos voadores disparasse, mas o que se vê pesquisando na Internet são fotos antigas, da época do filme. Concluo que seja tudo fraude ou engano porque hoje as pessoas estão muito mais observadoras, críticas e cautelosas com as fotos e as fraudes e confusões são rapidamente dilaceradas. As pessoas estão tão experientes que percebem o rastro do Photoshop até em barrigas inocentes e autênticas.




sexta-feira, 8 de junho de 2012

Cupidos

- Conversei com a Simone. Ela tem uma amiga que também está procurando alguém. Você quer o e-mail dela?

Não quis responder negativamente. Por educação peguei aquele pequeno pedaço de papel e descartei-o na lixeira quando ninguém estiva olhando. Não era pessoal, afinal eu nem conhecia a dona do e-mail. A questão é que eu não acreditava em relacionamentos deste tipo, parecendo uma encomenda, como se um amigo se vestisse de um camisolão branco e, voando com ajuda de asas alvíssimas, atirasse flexas no coração dos encalhados. Anos depois tentei retribuir a gentileza e também fui um cupido com duas tentativas e um casamento.



Na minha visão preconceituosa, os relacionamentos tinham que acontecer sempre ao acaso, como se só o acaso fosse o certo e o natural. O que eu imaginava é que fosse encontrar a minha esposa num curso, numa festa, sei lá. Nunca seria algo forçado ou encomendado.

Mas é natural os filhos herdarem as doenças dos pais, mas ninguém deixa o acaso cuidar do destino do filho neste caso, pois qualquer pessoa consciente dos riscos que um filho corre com a genética tenta se antecipar e prevenir desde a mais tenra idade. Também não é natural perder noites estudando para se formar. O natural é dormir gostoso, sem maiores aborrecimentos, mas nós forçamos um destino profissional melhor por meio da escola e dos estudos.

Dias depois o Jorge me procurou novamente.

- Ela disse para a Simone que não recebeu e-mail nenhum. Ela fica cobrando da Simone e a Simone fica cobrando de mim.

E o Jorge cobra de mim. O cerco se fechava e a saída que eu usei naquele momento foi inverter os papéis: dei o meu e-mail para ela e há exatos 13 anos apareceu esta mensagem na minha caixa postal e Simone e Jorge são nossos padrinhos de casamento.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Wheeler Dealers

Sem dúvida que os Reality Shows dão emprego à muita gente. Se não existissem, muitos canais de TV por assinatura simplesmente teriam que mudar totalmente a grade de programação. Quase todos tem um ar de armação em algum nível. Tome por exemplo o programa Mestres da Restauração: nunca um processo artesanal e complexo como o ato de dar nova vida a uma peça com 50 anos ou mais será tão linear e tão simples como mostrado no programa e nunca um cliente agiria tão naturalmente diante da câmera.






Existe um Reality Show chamado "Jóias sobre rodas" (Wheeler Dealers, canal Discovery Turbo, em horários irritantementes aleatórios) que não só foge da homogeneização norte-americana como exprime um contraste interessante entre a cultura britânica e a cultura dos Estados Unidos. O programa só tem dois personagens, é despojado, simples, ausente de recursos financeiros, quase mambembe. O primeiro compra e vende carros dos anos 80 e o segundo conserta os carros. Entenda consertar como simplesmente o ato de deixar o carro minimamente vendável e a mensagem é justamente esta: comprar barato, dar uma guaribada e vender com um pequeno lucro, muitas vezes não chegando a 300 libras esterlinas.





Como a mão de obra na Inglaterra é muito cara, o custo do trabalho não é contabilizado, o que evidentemente gera uma distorção, mas a ideia do programa é incentivar o telespectador a fazer o mesmo e ter uma fonte de renda extra. No Brasil isto seria impraticável porque poucos tem uma garagem como a do mecânico Edd China (a despeito do nome, China é um grandalhão de dois metros de altura, magro e de cabelos prateados) e só o elevador de veículos dele custa cinco mil reais no Mercado Livre.




No programa não há uma estrela. A estrela é o veículo e pode ser um Fusca cheio de podres que Edd ensina a tranformar num Buggy. Bem anos oitenta, não? Acho que o prazer dos Reality Shows está em fazer o público sonhar em ser o personagem. Eu adoro máquinas e acho que eu gostaria de ser o Edd China por duas semanas.