terça-feira, 30 de maio de 2017

Quinto casamento após um funeral

Me considero o homem dos cinco casamentos. O primeiro foi o casamento no papel e na Igreja, há quase 17 anos. O segundo começou quando compramos o nosso apartamento e sogra1 e sogra2 vieram morar com a gente. O terceiro casamento se inicia quando a Maricota nasce. O quarto com a morte da sogra2 e anteontem, com o falecimento da sogra1, começou o quinto.

O sexto enlace conjugal será quando Mariah sair de casa. Será o pior de todos.

Em cada casamento eu e Luiza, como rabos de lagartixas, éramos cortados e nascíamos de novo, com novos hábitos, novas regras, novos problemas e novas demandas.

Olhando em retrospectiva, todos os quatro casamentos foram muito difíceis e não há sinalização que este quinto matrimônio será moleza, porém certamente será tão divertido quanto estes quase 20 anos de união frenética e piadas incorretas.

Sogra1 morreu, mas desta vez foi diferente: o Alzheimer faz morrer um tiquínho por dia. A morte oficial, aquela que consta nas certidões, missas e lápides, é apenas a conclusão melancólica de uma história previsível, onde os personagens, mesmo os principais, são esquecidos aos poucos, o olhar fica vago e distante e o vocabulário se resume a uma dúzia de palavras.

Eu e Luiza seguimos no luto e na adaptação ao novo matrimônio. Ainda temos nesta semana a missa e alguma burocracia.

Outro dia eu estava na cama com a Mariah quando ela fez um gesto, quase um cacoete, típico da minha mãe. Levei um susto, deu vontade de chorar. Mariah não conheceu a minha mãe e eu não tenho o hábito de fazer aquele gesto específico. Só podia ser a genética. Mariah é 25% minha mãe e, de certa forma, a minha mãe vive no corpo da Mariah.

Mariah é Damaso, Maria Esther, Newton e Dalva em partes genéticas iguais e vocês quatro estão vivos dentro da minha filha. Quem disse que a Ciência não conforta os corações tristes? Saber que a Mariah, o nosso futuro, é a fusão perfeita dos antepassados é o melhor consolo para estes dias tristes.

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